de 23 a 25 de novembro de 1979
"O negro sob a visão política do estadista da República dos Palmares no Brasil de hoje."
Estamos às vésperas de um novo Recenseamento no Brasil e a manifesta intenção da Fundação do IBGE em não caracterizar a cor dos brasileiros provocou - como era de esperar - por parte dos sociólogos patrícios, um veemente protesto como mais uma forma disfarçada de racismo e escravagismo.
É de se indagar: por que essa ocultação da cor? Será pelo fato de sermos hoje uma Nação mestiça? Não são poucos os sociólogos que afirmam que mais de setenta por cento dos brasileiros é constituído por mestiços. Assim sendo, contrariamente ao que se afirmava há algumas décadas acerca do "branqueamento" do povo brasileiro, observa-se, atualmente, um "morenamento" do povo, o que vale dizer, um "escurecimento", ou seja, uma predominância dos caracteres "africanos na nossa gente".
Se há essa prevalência nas características do homem e da mulher brasileiros, não se nota, contudo, a valorização cultural de nossas raízes africanas. O que se verifica ainda no Brasil é um acentuado modo de ser alienígena, com fortes traços do elemento colonizador europeu e hoje, pelos diversos meios de comunicação e difusão artístico-cultural, dos hábitos e costumes americanos, fortemente descaracterizadores da identidade nacional.
Assim, se antes não conseguimos formar um pensamento representativo dos valores étnicos do negro, hoje, estamos muito mais ameaçados de não chegarmos a constituir os nossos pr6prios valores na sociedade brasileira, em face da avassaladora descaracterização da cultura nacional, onde a cultura brasileira, como um todo, vê-se ameaçada.
Diante dessa ameaça, o negro, o mestiço, o branco, enfim todos os que compõem o povo brasileiro poderão frustrar-se em não realizar o audacioso e ambicioso projeto de viabilizar a primeira civilização tropical, onde o elemento negro, por suas próprias características étnicas, é o forjador desta civilização nos Trópicos.
Ao nos reunirmos nesta pujante e progressista cidade de Ribeirão Preto, para estudar e debater os problemas do negro, inspiramo-nos, como não poderia deixar de ser, na figura daquele que foi o exemplo máximo da LIBERTAÇÃO NACIONAL contra o elemento. colonizador e que por todos os títulos e o seu incontestável papel na História do Brasil foi o iniciador do nosso processo de independência e da participação do negro na vida política: Zumbi, o criador da República de Palmares.
Malgrado o dignificante exemplo de Zumbi, depois de Palmares, observamos tristemente que há um vazio na participação política do negro, a despeito de um ou outro elemento, isoladamente, que galgou posição de realce no cenário nacional, não como força representativa da nossa etnia, mas, puramente, por méritos pessoais, tendo que transpor, é de se reconhecer, terríveis barreiras para fazer valer suas individualidades.
Razão pela qual, é preciso que se reafirme em um momento como este que precisamos nos unir, defender nossos valores culturais, ressaltar o legado de nossa herança cultural, enfim, participar ativamente do processo sócio-político-cultural brasileiro, sob pena de sermos considerados omissos pelos nossos pósteros, ou pior ainda, de termos nos acovardado em fazer valer nossos valores étnicos.
Os historiadores brasileiros, em sua esmagadora maioria constituída de brancos, sempre viu o elemento negro como extremamente .paciente, gentil, cordial, como um ser bondoso que está sempre esperando ~ nunca se definiu e nunca foi dito o que está a esperar - como um ser pronto a servir, no sentido de ser utilizado pelas classes dominantes, mas, infelizmente, nunca foi visto como um elemento cuja participação na força de trabalho foi e é decisiva para o engrandecimento da Nação brasileira. Somente o próprio negro pode acabar com essa imagem que antes de o engrandecer o diminui no contexto étnico brasileiro, transformando-se através da sua participação política nos destinos do Brasil.
É preciso um basta. Chega de esperar. Estamos esperando o quê? Que outros nos obriguem a participar politicamente? Acaso precisaremos de lições? Não foi suficiente o exemplo viril de Zumbi?
Por acaso Zumbi está morto? Não. Não acreditamos. O ideal de Zumbi permanece vivo, é eterno, jamais morrerá. Zumbi não morreu. Só morrerá se os negros o matarem. Mas isto jamais acontecerá. Por esta razão estamos reunidos aqui e agora para reafirmar o seu ideal de luta, de independência, de liberdade, de amor à VIDA e de vivificá-Ia.
Como ponto básico de nossos estudos, peço seja transcrito nos Anais deste Encontro a "Carta de Uberaba", idealizada sob a inspiração do estadista Zumbi, e que deve ser o traço de união, o ideário de' todo o negro brasileiro.
"O negro sob a visão política do estadista da República dos Palmares no Brasil de hoje."
Estamos às vésperas de um novo Recenseamento no Brasil e a manifesta intenção da Fundação do IBGE em não caracterizar a cor dos brasileiros provocou - como era de esperar - por parte dos sociólogos patrícios, um veemente protesto como mais uma forma disfarçada de racismo e escravagismo.
É de se indagar: por que essa ocultação da cor? Será pelo fato de sermos hoje uma Nação mestiça? Não são poucos os sociólogos que afirmam que mais de setenta por cento dos brasileiros é constituído por mestiços. Assim sendo, contrariamente ao que se afirmava há algumas décadas acerca do "branqueamento" do povo brasileiro, observa-se, atualmente, um "morenamento" do povo, o que vale dizer, um "escurecimento", ou seja, uma predominância dos caracteres "africanos na nossa gente".
Se há essa prevalência nas características do homem e da mulher brasileiros, não se nota, contudo, a valorização cultural de nossas raízes africanas. O que se verifica ainda no Brasil é um acentuado modo de ser alienígena, com fortes traços do elemento colonizador europeu e hoje, pelos diversos meios de comunicação e difusão artístico-cultural, dos hábitos e costumes americanos, fortemente descaracterizadores da identidade nacional.
Assim, se antes não conseguimos formar um pensamento representativo dos valores étnicos do negro, hoje, estamos muito mais ameaçados de não chegarmos a constituir os nossos pr6prios valores na sociedade brasileira, em face da avassaladora descaracterização da cultura nacional, onde a cultura brasileira, como um todo, vê-se ameaçada.
Diante dessa ameaça, o negro, o mestiço, o branco, enfim todos os que compõem o povo brasileiro poderão frustrar-se em não realizar o audacioso e ambicioso projeto de viabilizar a primeira civilização tropical, onde o elemento negro, por suas próprias características étnicas, é o forjador desta civilização nos Trópicos.
Ao nos reunirmos nesta pujante e progressista cidade de Ribeirão Preto, para estudar e debater os problemas do negro, inspiramo-nos, como não poderia deixar de ser, na figura daquele que foi o exemplo máximo da LIBERTAÇÃO NACIONAL contra o elemento. colonizador e que por todos os títulos e o seu incontestável papel na História do Brasil foi o iniciador do nosso processo de independência e da participação do negro na vida política: Zumbi, o criador da República de Palmares.
Malgrado o dignificante exemplo de Zumbi, depois de Palmares, observamos tristemente que há um vazio na participação política do negro, a despeito de um ou outro elemento, isoladamente, que galgou posição de realce no cenário nacional, não como força representativa da nossa etnia, mas, puramente, por méritos pessoais, tendo que transpor, é de se reconhecer, terríveis barreiras para fazer valer suas individualidades.
Razão pela qual, é preciso que se reafirme em um momento como este que precisamos nos unir, defender nossos valores culturais, ressaltar o legado de nossa herança cultural, enfim, participar ativamente do processo sócio-político-cultural brasileiro, sob pena de sermos considerados omissos pelos nossos pósteros, ou pior ainda, de termos nos acovardado em fazer valer nossos valores étnicos.
Os historiadores brasileiros, em sua esmagadora maioria constituída de brancos, sempre viu o elemento negro como extremamente .paciente, gentil, cordial, como um ser bondoso que está sempre esperando ~ nunca se definiu e nunca foi dito o que está a esperar - como um ser pronto a servir, no sentido de ser utilizado pelas classes dominantes, mas, infelizmente, nunca foi visto como um elemento cuja participação na força de trabalho foi e é decisiva para o engrandecimento da Nação brasileira. Somente o próprio negro pode acabar com essa imagem que antes de o engrandecer o diminui no contexto étnico brasileiro, transformando-se através da sua participação política nos destinos do Brasil.
É preciso um basta. Chega de esperar. Estamos esperando o quê? Que outros nos obriguem a participar politicamente? Acaso precisaremos de lições? Não foi suficiente o exemplo viril de Zumbi?
Por acaso Zumbi está morto? Não. Não acreditamos. O ideal de Zumbi permanece vivo, é eterno, jamais morrerá. Zumbi não morreu. Só morrerá se os negros o matarem. Mas isto jamais acontecerá. Por esta razão estamos reunidos aqui e agora para reafirmar o seu ideal de luta, de independência, de liberdade, de amor à VIDA e de vivificá-Ia.
Como ponto básico de nossos estudos, peço seja transcrito nos Anais deste Encontro a "Carta de Uberaba", idealizada sob a inspiração do estadista Zumbi, e que deve ser o traço de união, o ideário de' todo o negro brasileiro.